Se você já viu “100% do CDI” em CDBs, fundos DI e contas que rendem, saiba: essa sigla é a régua que dita a remuneração da maior parte da renda fixa pós-fixada no Brasil. Entender o CDI ajuda a escolher onde guardar a reserva, comparar ofertas e travar boas taxas sem cair em pegadinhas. Vamos ao ponto.
O que é CDI (e por que ele existe)
O CDI (Certificado de Depósito Interbancário) é a taxa de juros usada pelos bancos para emprestar dinheiro entre si por curtíssimo prazo.
Na prática, ele anda colado na Selic e virou referência para remunerar aplicações como CDBs, LC/LCI/LCA, fundos DI e contas que “rendem o CDI”.
Pensa no CDI como o “metrônomo” da renda fixa diária. Quando a Selic sobe ou cai, o CDI acompanha.
CDI x Selic x “% do CDI” — entenda a relação
- Selic Meta: definida pelo Copom; orienta os juros da economia.
- CDI: taxa efetiva do mercado interbancário, muito próxima da Selic over.
- % do CDI: quanto sua aplicação rende em relação ao CDI (ex.: 110% do CDI rende 10% a mais que o CDI no período).
Onde o CDI aparece no seu dia a dia
- CDB com liquidez diária: reserva de emergência, tipicamente entre 100% e 110% do CDI (ou mais em promoções).
- Contas remuneradas: rendem uma fração do CDI.
- LCI/LCA: costumam pagar % do CDI e são isentas de IR (pessoa física), mas têm carência.
- Fundos DI: buscam acompanhar o CDI líquido de taxas.
- Empréstimos: algumas linhas cobram CDI + spread.
Como calcular seu rendimento (sem mistério)
Suponha CDI anual de referência. Para estimar o ganho bruto:
- Converta o % do CDI
- Se o produto paga 110% do CDI, e o CDI anual é x%, seu bruto anual é 1,10 × x% (antes de impostos/taxas).
- Traga para o período real
- Em 30 dias, use taxa diária aproximada ou simuladores.
- Para comparação simples mês a mês, uma regra de bolso ajuda:
- Rendimento mensal aproximado ≈ (CDI anual × % do CDI) ÷ 12 (estimativa; o real é composto diariamente).
Exemplo didático (ilustrativo):
- CDI anual: 10%
- CDB: 110% do CDI → 11% a.a.
- Em R$ 10.000, 1 ano → R$ 1.100 brutos (antes de IR).
- Com IR de 17,5% (faixa >360 e ≤720 dias), líquido do ganho ≈ R$ 907,50.
Compare líquido, não só a taxa bruta. Em prazos curtos (até 30 dias), há IOF regressivo.
CDI na estratégia: quando usar (e quando não)
Use produtos atrelados ao CDI quando:
- Precisa de liquidez e estabilidade (reserva de emergência, caixa).
- Juros estão altos ou incertos (pós-fixados protegem você).
- Quer previsibilidade sem travar prazo longo.
Prefira outros indexadores quando:
- Longo prazo com proteção de poder de compra → IPCA+ (renda fixa indexada à inflação).
- Aposta em queda de juros e pode ficar até o vencimento → prefixados.
- Quer renda recorrente ou crescimento de capital no tempo → combinar com Bolsa/FIIs/ETFs, após ter a reserva.
Impostos, FGC e custos: os detalhes que mudam o jogo
- IR regressivo (CDB/LC): 22,5% até 180 dias → 20% → 17,5% → 15% (acima de 720 dias).
- IOF: só se resgatar antes de 30 dias.
- Isentos: LCI/LCA (pessoa física) e debêntures incentivadas (não atreladas ao CDI, mas vale lembrar).
- FGC: CDB/LC/LCI/LCA têm cobertura até R$ 250 mil por instituição (limite global R$ 1 milhão a cada 4 anos).
- Taxas: fundos DI cobram administração; veja o líquido vs. CDBs diretos.
Comparações rápidas (para decidir em 1 minuto)
- CDB 102% CDI com D+0 vs. Fundo DI 0,5% a.a.: muitas vezes o CDB ganha no líquido, especialmente para prazos médios/longos.
- LCI 92% CDI (isenta) vs. CDB 105% CDI (tributado): simule o líquido; a isenção pode compensar a taxa menor.
- Conta que rende CDI vs. Tesouro Selic: para reserva, avalie liquidez (D+0/D+1), taxas e risco de marcação (mínimo no Selic).
Erros comuns (e como evitar)
- Olhar só o % do CDI e esquecer IR/taxas.
- Confundir CDI com CDB (CDI é a taxa, CDB é o produto).
- Usar CDI para objetivo de décadas (protege menos que IPCA+).
- Ignorar carência de LCI/LCA e precisar do dinheiro antes.
- Concentrar acima do FGC em um único emissor.
Roteiro prático (15 minutos)
- Defina o objetivo: reserva (D+0/D+1), meta de 6–24 meses ou “estacionamento” entre investimentos.
- Escolha o veículo: CDB diário (reserva), LCI/LCA (se o prazo couber), Tesouro Selic (D+1, segurança soberana).
- Compare 3 ofertas: % do CDI, liquidez, IR/isenção e emissor.
- Aporte automático: programe após o salário.
- Revisão semestral: taxas, prazos e diversificação por instituição.
FAQ rápido
CDI e Selic são a mesma coisa?
Não, mas andam juntos. O CDI costuma ficar ligeiramente abaixo da Selic efetiva.
100% do CDI é bom?
Depende do produto, liquidez e emissor. Para reserva, 100% do CDI em D+0/D+1 pode ser ok; busque acima de 100% quando possível, sem abrir mão de segurança.
LCI/LCA com % menor pode render mais que CDB?
Sim, por serem isentas de IR. Compare líquido.
Tesouro Selic rende CDI?
Rende Selic (muito próxima do CDI). Para fins práticos, o comportamento é parecido.
Conta que rende CDI substitui a reserva?
Pode compor. Confira limites, garantia, eventuais travas e compare ao Tesouro Selic/CDB diário.
Conclusão
O CDI é o eixo da renda fixa pós-fixada no Brasil. Usá-lo bem significa escolher produtos líquidos e seguros para a reserva, comparar líquidos (após impostos e taxas) e diversificar emissores respeitando o FGC. Para o longo prazo, complemente com IPCA+ e/ou renda variável. Método simples, decisões melhores — e seu dinheiro trabalha todos os dias.