A engenharia de prompt é a arte de transformar perguntas vagas em instruções claras que fazem a IA entregar respostas úteis, consistentes e seguras. Não é sobre “palavras mágicas”; é método. Neste guia, você aprende estruturas, exemplos e checklists para dominar prompts em tarefas do dia a dia — de finanças pessoais a produtividade e atendimento.
O que é engenharia de prompt (e por que importa)
Engenharia de prompt é o processo de definir objetivo, contexto, formato de saída e restrições para que modelos de linguagem executem uma tarefa com qualidade mensurável.
Benefícios diretos:
- Precisão: menos resposta genérica, mais aderência ao seu caso.
- Velocidade: menos retrabalho, ciclos de iteração curtos.
- Governança: histórico de decisões e padrões reproduzíveis pelo time.
Estrutura-base de um prompt profissional
Use a fórmula POC-FER (Papel, Objetivo, Contexto — Formato, Exemplos, Regras).
- Papel: quem o modelo “é” (função e nível).
- Objetivo: o que precisa entregar, com critério de qualidade.
- Contexto: dados, premissas, público-alvo e limitações.
- Formato: estrutura de saída (tabela, JSON, bullets, sections).
- Exemplos: 1–3 amostras curtas do que é bom/ruim.
- Regras: proibições, tons, idioma, limites de caracteres.
Template
[PAPEL] Você é um <função/nível>. [OBJETIVO] Produza <entrega> com <métrica/critério>. [CONTEXTO] Público-alvo <...>. Dados relevantes: <...>. [FORMATO] Responda em <formato>, com <campos/sections>. [EXEMPLOS] Bom: <...>. Ruim: <...>. [REGRAS] Idioma <pt-BR>. Não invente dados. Cite suposições.
Técnicas que elevam a qualidade
- Decomposição de tarefas: peça passos curtos (planejar → executar → revisar).
- Delimitação de contexto: cole textos entre marcadores
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e explique como usá-los. - Restrições explícitas: limite de caracteres, número de itens, tom de voz.
- Prompt de verificação (self-check): após a resposta, faça o modelo validar requisitos-chave.
- Few-shot: 2–3 exemplos curtos de entrada→saída para “ensinar o padrão”.
- Critérios de avaliação: peça uma mini-rúbrica para auditar a saída (ex.: “cubra A/B/C”).
Exemplos práticos (finanças pessoais e produtividade)
1) Classificação de gastos (texto → categoria)
[PAPEL] Você é um classificador financeiro sênior. [OBJETIVO] Classifique a descrição do gasto em UMA categoria. [CONTEXTO] Categorias: alimentação, moradia, transporte, assinaturas, saúde, educação, lazer, outros. [FORMATO] JSON {"descricao":"", "categoria":""} [EXEMPLOS] "NETFLIX*29/09" -> assinaturas | "UBER TRIP" -> transporte [REGRAS] Se houver dúvida, use "outros". Não mude a descrição original. Entrada: "IFD*RAPPIBR SP 23/09"
2) Plano de economia mensal (dados → ação)
[PAPEL] Planejador financeiro digital. [OBJETIVO] Reduzir gastos variáveis em 15% mantendo qualidade de vida. [CONTEXTO] Média 3 meses: alimentação R$1200, transporte R$450, lazer R$600. [FORMATO] Bullets: 5 ações + estimativa de economia por ação (R$). [REGRAS] Sem cortar itens essenciais; linguagem simples.
3) Resumo executivo em 5 linhas
[PAPEL] Analista sênior. [OBJETIVO] Resumir o texto abaixo em 5 linhas, com 1 insight acionável. [FORMATO] 5 bullets. [REGRAS] Sem jargão, tom objetivo. Texto: <<< ... >>>
Frameworks de organização
- CLEAR (Context, Limits, Examples, Audience, Result): útil para comunicações externas.
- CRISPE (Capacity, Role, Insight, Steps, Performance, Evaluate): bom para tarefas longas.
- Style Sheets: documentos com tom de voz, proibições e microdiretrizes de escrita que você referencia em cada prompt.
Como medir qualidade (sem achismo)
Defina métricas antes de iterar:
- Acurácia/Recall (classificação), BLEU/ROUGE (resumos padronizados), Conformidade de formato (JSON válido), Avaliação humana (clareza, utilidade).
- Processo rápido:
- Crie 10–30 casos de teste reais.
- Rode o mesmo prompt e meça.
- Ajuste apenas 1–2 variáveis por rodada (formato, exemplos, regras).
- Documente versões do prompt e resultados.
Erros comuns (e como evitar)
- Objetivos vagos → escreva metas observáveis (“3 recomendações com R$ estimado”).
- Contexto demais ou de menos → forneça só o necessário e bem delimitado.
- Formato solto → peça estrutura rígida quando for integrar a planilhas/BI.
- Sem verificação → inclua bloco de self-check no próprio prompt.
- Ignorar privacidade → remova PII e marque dados sensíveis.
Checklist de prompt pronto para produção
- Objetivo com critério de qualidade.
- Papel definido e público-alvo claro.
- Contexto delimitado (
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). - Formato de saída validável (ex.: JSON schema).
- 2–3 exemplos curtos e relevantes.
- Regras de segurança (sem dados inventados, sem PII).
- Bloco de verificação ao final.
Plano de 7 dias para dominar na prática
- Dia 1: escolha um caso (ex.: classificar gastos). Defina métrica.
- Dia 2: escreva o primeiro prompt com POC-FER.
- Dia 3: crie 20 casos de teste reais.
- Dia 4: rode e meça; registre resultados.
- Dia 5: ajuste exemplos e formato; adicione self-check.
- Dia 6: integre a um fluxo (planilha/app) e valide com usuário.
- Dia 7: documente versão 1.0 e plano de melhoria contínua.
Boas práticas de segurança e ética
- Menor privilégio: envie apenas o contexto necessário.
- Explicabilidade: peça sempre o “porquê” das decisões quando relevante.
- Auditoria: guarde versões de prompts e saídas.
- Transparência: sinalize suposições e incertezas na resposta.
Conclusão
Engenharia de prompt é processo, não truque. Com uma estrutura clara (POC-FER), exemplos curtos e métricas objetivas, você transforma modelos de linguagem em copilotos confiáveis — úteis para organizar finanças, tomar decisões e comunicar com impacto. Comece pequeno, meça, itere. O resultado é uma IA que trabalha a seu favor, todos os dias.