Você recebe uma proposta e pensa: “quanto cai na conta?”. A diferença entre salário bruto e salário líquido decide seu padrão de vida, sua poupança e se aquela vaga realmente vale a pena. Neste guia premium e direto, você aprende o que entra no bruto, o que desconta do holerite e um passo a passo de cálculo (com exemplo) para nunca mais se enganar — inclusive em casos com benefícios, dependentes e pensão.
Bruto x Líquido — o que é cada um
- Salário bruto: valor contratado antes de descontos. Inclui salário-base e adicionais (insalubridade, periculosidade, horas extras, adicional noturno, comissões).
- Salário líquido: o que cai na conta depois dos descontos obrigatórios (INSS, IRRF quando houver) e facultativos/contratuais (vale-transporte, coparticipação de plano de saúde, sindicato, empréstimo consignado).
Importante: FGTS (8%) não é desconto do empregado — é depósito que a empresa faz numa conta vinculada.
O que costuma descontar do holerite
Obrigatórios (lei/política tributária):
- INSS (contribuição previdenciária) — cálculo progressivo por faixas sobre o salário de contribuição.
- IRRF (Imposto de Renda na Fonte) — também progressivo, aplicado sobre a base de cálculo (bruto − INSS − deduções legais).
Contratuais/convencionais (podem existir):
- Vale-transporte (até 6% do salário-base, quando contratado).
- Plano de saúde/odonto (quando há coparticipação).
- Contribuição sindical/assistencial (se autorizada/prevista em acordo).
- Empréstimos/adiantamentos autorizados.
- Pensão alimentícia (por decisão judicial/acordo) — pode incidir antes do IR, alterando a base.
Não são descontos do líquido (mas importam):
- FGTS (8%) pago pelo empregador.
- Benefícios não descontados (VR/VA sem coparticipação, bônus, PLR) — regras variam.
Como calcular o salário líquido (roteiro de 6 passos)
Atenção: As tabelas de INSS e IR mudam periodicamente. Use o método abaixo e aplique a tabela vigente do seu ano.
- Some o bruto do mês
- Salário-base + adicionais (HE, insalubridade, etc.) = Bruto.
- Calcule o INSS (progressivo)
- Aplique as alíquotas por faixa apenas sobre a parte do salário que cai em cada faixa (sistema progressivo). Some as parcelas para obter o INSS do mês.
- Monte a base do IRRF
- Base IRRF = Bruto − INSS − dedução por dependente − pensão (se houver) − outras deduções legais.
- Calcule o IRRF (progressivo)
- Aplique a tabela por faixas à base IRRF e subtraia a parcela a deduzir (quando a legislação prever).
- Aplique descontos contratuais
- Vale-transporte, plano de saúde, sindicato, consignado etc.
- Chegue ao líquido
- Líquido = Bruto − INSS − IRRF − descontos contratuais.
Exemplo prático (valores ilustrativos)
Exemplo didático para entender o mecanismo. Não use como tabela oficial.
- Salário-base (bruto): R$ 5.000,00
- Dependentes: 1 (considere a dedução legal vigente no seu ano)
- Pensão: não
- Vale-transporte: sim (6%)
- Plano de saúde: coparticipação R$ 180,00
2) INSS (progressivo por faixas — alíquotas meramente ilustrativas):
Suponha faixas e alíquotas fictícias; a soma das parcelas resulta em, digamos, R$ 530,00 de INSS.
3) Base do IRRF
Base = 5.000,00 − 530,00 − dedução por 1 dependente (use o valor vigente) → Base ajustada.
4) IRRF (tabela progressiva ilustrativa):
Aplicando as faixas e a parcela a deduzir, suponha que o IR do mês seja R$ 220,00.
5) Descontos contratuais
- VT (6%): R$ 300,00
- Saúde: R$ 180,00
6) Líquido (exemplo)
Líquido ≈ 5.000,00 − 530,00 − 220,00 − 300,00 − 180,00 = R$ 3.770,00.
Repare que um dependente e vale-transporte mudam tanto a base de IR quanto os descontos finais. Com pensão (judicial) a base reduziria ainda mais antes do IR.
Situações comuns que alteram o cálculo
- Horas extras/adicionais: aumentam o bruto e, portanto, INSS/IR.
- Faltas/atrasos: reduzem o bruto do mês.
- Pensão alimentícia: quando descontada antes do IR, reduz a base.
- Dependentes: cada dependente gera dedução específica no IR.
- PLR: tem regras próprias de tributação.
- 13º salário: calculado e tributado em regime separado (INSS/IR próprios).
- Férias: possuem adicional de 1/3, com incidências específicas.
CLT x PJ x MEI: impacto no “líquido comparável”
- CLT: tem INSS retido na fonte, FGTS (8%) pago pela empresa, 13º, férias + 1/3, e benefícios.
- PJ/MEI: recebe bruto maior, mas precisa cobrir tributos da empresa, pró-labore/INSS, férias/13º “autônomos”, plano de saúde e seguros.
Para comparar “maçã com maçã”, converta CLT → equivalente PJ (somando benefícios) ou PJ → equivalente CLT (tirando tributos e provisões).
Checklist rápido para não errar
- Somei tudo que compõe o bruto do mês?
- Apliquei INSS progressivo com a tabela vigente?
- Calculei a base do IR (bruto − INSS − dependentes − pensão)?
- Usei a tabela do IR vigente (alíquotas + parcela a deduzir)?
- Considerei descontos contratuais (VT, saúde etc.)?
- Verifiquei itens não descontados (FGTS, VR/VA sem copart.)?
Erros comuns (e como evitar)
- Usar alíquota cheia do INSS/IR sobre todo o salário (esquece a progressividade).
- Ignorar dependentes/pensão na base do IR.
- Confundir FGTS com desconto do empregado (não é).
- Comparar propostas olhando só o bruto (desconsidere benefícios/custos).
- Esquecer 13º/férias no “líquido anual” (faz muita diferença).
Ferramentas e boas práticas
- Peça holerites simulados ao RH na fase de proposta.
- Guarde a tabela vigente de INSS e IR do ano (site oficial) e atualize em janeiro/fevereiro.
- Use uma planilha com campos de: bruto, adicionais, dependentes, pensão, VT, saúde, tabela de INSS/IR — e gere o líquido automaticamente.
FAQ rápido
FGTS entra no líquido?
Não. É depósito do empregador em sua conta FGTS — não sai do seu salário líquido.
Vale-transporte é obrigatório?
Se contratado, pode descontar até 6% do salário-base. Empresas podem adotar política própria de subsídio, mas a regra geral é essa.
Quem tem isenção de IR?
Depende do valor da base e de situações previstas em lei (doenças específicas, por exemplo). Consulte a regra vigente e, se preciso, um contador.
Como comparar duas propostas?
Monte o líquido mensal (com tabelas vigentes) e também o líquido anual (incluindo 13º, férias + 1/3, bônus, VR/VA, plano de saúde, FGTS como valor indireto).
Conclusão
Entender bruto x líquido é dominar seu poder de compra real. Com o método progressivo (INSS e IR), a base correta e atenção aos descontos contratuais, você calcula o que de fato entra no bolso — e negocia melhor. Para propostas e mudanças de emprego, sempre compare líquido mensal e anual, incluindo benefícios. A matemática é simples; a clareza que ela traz vale muito.