Quando o assunto é construir patrimônio de longo prazo, duas rotas se destacam: Previdência Privada e Tesouro Direto. A primeira brilha pelo planejamento tributário e pela sucessão facilitada; a segunda se impõe pela transparência, liquidez e custos previsíveis. Este guia compara, sem rodeios, onde cada uma vence e como combiná-las para maximizar retorno líquido, segurança e praticidade.
Visão geral: o que você está comprando
- Previdência Privada (PGBL/VGBL): é um veículo (fundo com regras próprias), não um ativo em si. Você investe em carteiras que podem conter renda fixa, multimercado, ações etc.
- Tesouro Direto: é a compra direta de títulos públicos (Selic, Prefixado, IPCA+), com regras claras de preço, tributação e liquidez.
Ideia-chave: Previdência é sobre estrutura e benefícios (tributo/sucessão/gestão). Tesouro é sobre controle, custo e liquidez.
Previdência: quando faz (muito) sentido
1) Benefício fiscal
- PGBL: permite deduzir até 12% da renda tributável anual (se você declara no modelo completo e contribui ao INSS/Regime Próprio). O IR é cobrado sobre o total no resgate/benefício.
- VGBL: não deduz na declaração, mas o IR incide apenas sobre os rendimentos no resgate/benefício.
Para quem usa declaração simplificada, o VGBL costuma ser mais aderente.
2) Tabela de tributação (escolha estratégica)
- Regime regressivo (longuíssimo prazo): alíquota cai ao longo do tempo (35% → 10% após 10 anos por aporte). Bom para acumulação de décadas e renda futura.
- Regime progressivo (curto/médio prazo ou renda alta hoje): segue a tabela mensal do IR. Indicado quando você pretende resgatar cedo ou terá rendimentos isentos/baixos na fase de benefício.
3) Sucessão e organização patrimonial
- Normalmente sem inventário e com liquidez mais rápida para beneficiários.
- Permite portabilidade entre planos sem IR durante a acumulação (pague atenção a carências e eventuais taxas do plano de origem).
4) Governança e taxas
- Avalie taxa de administração, taxa de carregamento (na entrada/saída; ideal é 0%) e taxa de performance.
- Prefira planos com arquitetura aberta, histórico consistente e política de investimento clara.
Tesouro Direto: onde ele é imbatível
1) Transparência e controle
- Você escolhe o título (Selic, IPCA+, Prefixado) e o vencimento que casam com sua meta.
- Liquidez: venda diária (em dias úteis) ao preço de mercado.
2) Custos e tributação
- Custódia B3 de 0,20% a.a. e, em geral, corretagem zero.
- IR regressivo sobre rendimentos (22,5% até 180 dias → 15% acima de 720 dias).
- IOF só se resgatar em menos de 30 dias.
3) Casamento de prazo
- Para objetivos datados (ex.: faculdade do filho em 2034), o Tesouro IPCA+ 2035/2045 oferece previsibilidade real se mantido até o vencimento.
- Para reserva e liquidez, o Tesouro Selic é o padrão ouro.
Riscos e pontos de atenção (sem fantasia)
- Previdência: risco de produto ruim (taxas altas, gestão fraca), carências e aderência do regime tributário.
- Tesouro: marcação a mercado (oscilações antes do vencimento) e falta de benefícios sucessórios/fiscais típicos da previdência.
Quem ganha em cada cenário
- Você declara no modelo completo + tem renda tributável elevada: tende a vencer o PGBL (dedução até 12% = dinheiro trabalhando a seu favor).
- Busca reserva de emergência, caixa tático ou metas de 1–5 anos: Tesouro Selic e IPCA+ curto (com consciência da marcação).
- Planejamento sucessório e renda futura estável: Previdência (regressivo) + carteira coerente ao seu perfil.
- Objetivo com data certa (colégio, faculdade, quitação): Tesouro IPCA+ com vencimento aderente.
Como combinar os dois (estratégia híbrida)
- Primeiro, a base de liquidez: 6–12 meses de gastos em Tesouro Selic.
- Depois, o “teto fiscal” anual: até 12% PGBL (se elegível) com regime regressivo para aposentadoria.
- Metas de longo prazo indexadas à inflação: Tesouro IPCA+ nos vencimentos adequados.
- Portabilidade inteligente: se o plano de previdência tiver taxas altas, migre para um plano melhor (sem IR), mantendo o regime escolhido.
- Revisão anual: confirme se sua faixa de IR, tabela/ regime e custos continuam ótimos.
Exemplos práticos (ilustrativos)
- Profissional CLT, 35 anos, declara completo:
Reserva:
Tesouro Selic (R$ 30 mil).- Previdência: PGBL regressivo com aporte anual de até 12% da renda.
- Metas 2035+: Tesouro IPCA+ 2035 com aportes mensais.
- Autônomo no simplificado, 42 anos:
Reserva:
Tesouro Selic.- Longo prazo: VGBL regressivo (sem benefício de dedução, mas com sucessão e tributação sobre rendimentos).
- Objetivo em 7 anos: Tesouro IPCA+ com vencimento próximo.
- Pré-aposentado, 55 anos, já tem previdência antiga cara:
- Portabilidade para plano sem carregamento e taxa menor.
- Complemento com Tesouro IPCA+ curto visando preservar poder de compra.
Checklist de decisão (copiar e usar)
- Declaração do IR: completo (PGBL) ou simplificado (VGBL)?
- Horizonte: <5 anos, 5–10, 10+? Qual parte precisa de liquidez?
- Regime tributário na previdência: regressivo (10+ anos por aporte) ou progressivo?
- Taxas: administração, carregamento, performance.
- Objetivos e vencimentos: títulos do Tesouro casados com datas-meta.
- Sucessão: importância de beneficiários e liquidez na herança.
Erros comuns para evitar
- Escolher PGBL sem poder deduzir (declaração simplificada).
- Ignorar carências e taxas da previdência.
- Usar prefixados/longos do Tesouro para objetivos de curto prazo.
- Esquecer da marcação a mercado e vender no susto.
- Não revisar o regime (progressivo vs. regressivo) com mudanças de renda.
Conclusão
Não existe “um melhor absoluto” — existe o melhor para o seu objetivo e tributação. Use Previdência para otimizar impostos, organizar sucessão e investir com disciplina de décadas; use Tesouro Direto para liquidez, previsibilidade e custo baixo. A combinação certa, com prazos bem casados e taxas sob controle, coloca você no caminho de uma aposentadoria serena e eficiente.