Renda fixa não é tudo igual. Títulos públicos e privados cumprem papéis diferentes na sua carteira — e entender quem emite, como paga e quais são os riscos evita decisões caras. Neste guia direto e premium, você verá o que são títulos públicos, como eles se comparam aos títulos privados, e um passo a passo para escolher o produto certo para cada objetivo.
O que são títulos públicos
São títulos emitidos pelo Governo Federal para financiar suas atividades. No varejo, você acessa pelo Tesouro Direto, em três famílias:
- Tesouro Selic (pós-fixado): rende a taxa Selic. Ideal para liquidez e reserva de emergência.
- Tesouro IPCA+ (híbrido): paga inflação (IPCA) + juros reais. Foco em preservar poder de compra no médio e longo prazo.
- Tesouro Prefixado: taxa fixa definida na compra. Bom quando você acredita em queda de juros à frente e tem prazo definido.
Por que são considerados seguros? O risco de crédito é do Governo Federal, historicamente o menor do mercado local.
O que são títulos privados
São emitidos por bancos e empresas para financiar suas operações:
- CDB/LC/LF (bancos): remuneram por CDI, prefixado ou IPCA. Alguns contam com cobertura do FGC (até o limite vigente).
- LCI/LCA (bancos): isentas de IR para pessoa física, lastreadas em crédito imobiliário e agronegócio.
- Debêntures (empresas): podem pagar CDI, IPCA ou prefixado. As incentivadas (infraestrutura) são isentas de IR para pessoa física.
- CRI/CRA (securitizadoras): títulos ligados a recebíveis (imobiliário/agronegócio), geralmente isentos de IR para pessoa física.
Por que pagam mais? Assumem risco de crédito privado (do banco/empresa) e, muitas vezes, menor liquidez secundária.
Públicos x Privados: as 7 diferenças que importam
- Quem emite
- Públicos: Governo Federal.
- Privados: bancos, empresas ou securitizadoras.
- Risco de crédito
- Públicos: soberano (mais baixo do mercado local).
- Privados: varia conforme a saúde financeira do emissor.
- Garantias
- Públicos: sem garantia externa; o lastro é o Tesouro.
- Privados: alguns têm FGC (CDB/LCI/LCA/LC/LF elegíveis); debêntures/CRI/CRA não têm FGC (podem ter garantias específicas do contrato).
- Rentabilidade/Indexadores
- Ambos podem ser pós-fixados (CDI/Selic), prefixados ou atrelados ao IPCA. Títulos privados tendem a oferecer prêmio adicional pelo risco.
- Liquidez
- Tesouro Direto: recompra diária em dias úteis.
- Privados: podem ter janelas, prazos de carência ou mercado secundário menos líquido.
- Tributação
- Tesouro e maioria dos privados: IR regressivo sobre rendimentos.
- Isenções: LCI/LCA, CRI/CRA e debêntures incentivadas são isentos de IR para pessoa física (observe IOF em prazos < 30 dias, quando aplicável).
- Marcação a mercado (volatilidade no curto prazo)
- Existe em ambos se vender antes do vencimento. O impacto costuma ser maior em papéis longos e prefixados/IPCA+.
Quando usar cada um (regra de bolso)
- Liquidez e colchão de segurança → Tesouro Selic ou CDB com liquidez diária de alta qualidade.
- Objetivos de médio/longo prazo com proteção contra inflação → Tesouro IPCA+ e debêntures/CRIs/CRAs atrelados ao IPCA (respeitando o prazo).
- Travar uma taxa nominal com prazo definido → Tesouro Prefixado ou CDB/LC prefixados próximos ao vencimento da meta.
- Buscar prêmio de crédito com análise** → Debêntures (de preferência incentivadas), CRI/CRA e LCAs/LCIs.
Dica premium: alinhe o vencimento do título à data da sua meta. Isso reduz o risco de vender no pior dia.
Riscos (e como reduzir)
- Crédito (calote do emissor)
- Como mitigar: diversifique emissores e setores; avalie rating, covenants e histórico. Use FGC quando fizer sentido.
- Juro (oscilação de preço)
- Como mitigar: segure até o vencimento; prefira prazos coerentes com a meta.
- Liquidez (dificuldade para sair)
- Como mitigar: não use papéis ilíquidos para emergência; mantenha reserva separada.
- Tributário e custos
- Como mitigar: compare taxas (administração/corretagem/custódia) e aproveite isenções legais.
Comparativo rápido
- Segurança base da carteira: Tesouro Selic.
- Proteção do poder de compra: Tesouro IPCA+.
- Potencial de prêmio com análise de crédito: Debêntures, CRI/CRA, LC/LF.
- Eficiência tributária: LCI/LCA e debêntures/CRI/CRA incentivados (isentos).
Como montar na prática (exemplos ilustrativos)
Perfil Conservador
- Curto prazo (0–2 anos): 100% Tesouro Selic/CDB liquidez diária.
- Médio prazo (2–5 anos): 70% pós-fixado + 30% prefixado curto.
Perfil Moderado
- Curto: 80% Tesouro Selic + 20% CDB liquidez.
- Médio: 60% pós-fixado + 30% IPCA+ curto + 10% LCI/LCA.
- Longo (5–15+): 50% Tesouro IPCA+ + 30% debêntures incentivadas + 20% pós-fixado.
Perfil Arrojado em Renda Fixa
- Curto: 70% Selic + 30% CDB liquidez.
- Médio/Longo: 40% IPCA+ longos + 40% debêntures/CRI/CRA (diversificados por emissor e setor) + 20% prefixados.
Pro tip: use aportes automáticos e rebalanceamento semestral para manter o risco no trilho — sem depender do humor do mercado.
Checklist de escolha (5 passos)
- Objetivo e prazo definidos (data e valor em “dinheiro de hoje”).
- Indexador adequado (Selic/CDI, IPCA ou prefixado).
- Análise de risco do emissor (rating, balanços, garantias/FGC).
- Liquidez (há carência? mercado secundário existe?).
- Tributação e custos (IR/IOF, taxa de custódia/corretagem).
Conclusão
Títulos públicos oferecem a espinha dorsal da sua renda fixa: simples, transparentes e alinhados a metas claras. Títulos privados acrescentam prêmio — desde que você respeite prazo, crédito e liquidez. Combine os dois com método: objetivos no tempo certo, custos sob controle e disciplina de aportes. Assim, sua renda fixa deixa de ser “comodity” e vira um motor previsível de riqueza.