Lucro contábil não paga boleto. Caixa paga. Negócios quebram por falta de caixa — não por falta de lucro no papel. Este guia direto mostra como dominar o fluxo de caixa em 30 dias: do mapeamento ao orçamento, com métricas que importam e rituais simples que mantêm sua empresa respirando e crescendo.
Fluxo de caixa em 1 frase
Entradas e saídas por data de pagamento/recebimento — não por competência. É o calendário real do dinheiro.
Arquitetura do caixa (4 peças)
- Contas a receber — prazos, formas de cobrança, inadimplência.
- Contas a pagar — fornecedores, impostos, folha, aluguel, CAPEX.
- Saldo de abertura — dinheiro disponível hoje (bancos/caixa).
- Projeção — visão semanal de 13 semanas (horizonte padrão) e mensal de 12 meses.
Regra de ouro: semana é a unidade operacional do caixa.
Ciclo de caixa (o velocímetro da empresa)
Ciclo Financeiro = Prazo de Estoque + Prazo de Recebimento – Prazo de Pagamento.
- Diminua estoques e prazos de recebimento.
- Aumente prazos com fornecedores (sem queimar relacionamento).
- Objetivo: ciclo ≤ 0 (fornecedor financia sua operação) ou o menor possível.
Margem de Contribuição & Ponto de Equilíbrio
- Margem de Contribuição (MC) = Preço – Custos Variáveis (impostos sobre venda, comissões, frete, insumos).
- Ponto de Equilíbrio (PE) = Fixos ÷ MC%.
- Use para decidir preço, mix e campanhas. Se a MC é baixa, volume não salva sozinho.
KPIs que importam (e cabem em 1 tela)
- Saldo de caixa (hoje e D+7)
- Runway (meses até zerar caixa no ritmo atual)
- Ciclo financeiro (dias)
- Recebíveis vencidos (%)
- MC% por produto/serviço
- PE (R$ e unidades)
- CAC / LTV (se houver marketing/assinaturas)
Plano de 30 dias (do zero ao controle)
Semana 1 — Raio X e mapa de prazos
- Liste todas as saídas fixas (folha, aluguel, SaaS, energia, contabilidade) e variáveis.
- Levante recebíveis por cliente e prazos.
- Abra um calendário de caixa 13 semanas (colunas = semanas; linhas = categorias).
- Defina saldo mínimo de segurança (ex.: 1 folha + 1 aluguel).
Semana 2 — Cobrança e prazos
- Padronize condições de pagamento (link/PIX, cartão, 2ª via automática).
- Antecipação seletiva: só quando o desconto < custo de capital e resolve pico.
- Política de crédito: limite por cliente, aprovação simples, bloqueio automático em atraso.
Semana 3 — Custos e renegociação
- Desmembre fixos por contrato; renegocie prazo e valor (telefonia, aluguel, SaaS).
- Troque variáveis caros por equivalentes (logística, meios de pagamento).
- Corte o que não gera receita nem reduz risco.
Semana 4 — Orçamento e rotina
- Crie um Orçamento Base Zero Empresarial (cada gasto justifica existir todo mês).
- Implante ritual semanal de caixa (30 min): revisar 13 semanas, decidir cortes/adiamentos, priorizar cobrança.
- Fechamento D+2: comparar projetado vs. realizado, ajustar premissas.
Pricing que preserva caixa
- Prefira planos (recorrência) a vendas pontuais.
- Sinal + parcelas em tickets altos.
- Desconto por pagamento antecipado > desconto generalizado de preço.
- Indexe reajustes (anual) e escalone por valor entregue (Básico/Pro/Premium).
Estratégias por tipo de negócio
B2B Serviços
- Contratos mensais adiantados + ciclo de aprovação rápido.
- Timesheet → fatura sem atrito; follow-up padronizado (D-3, D+1, D+7).
- MC sobe com escopo fechado e pacotes.
E-commerce/Atacado
- Política de estoque enxuto (curva ABC, giro mínimo).
- Negocie prazos com fornecedores alinhados ao giro.
- Gateway com taxa e prazo otimizados; promova meios de liquidação instantânea.
Educação/Assinaturas (SaaS)
- Cobrança recorrente automática, dunning inteligente (recuperação de falha de cartão).
- CAC payback em ≤ 6–9 meses; evite crescer queimar-caixa sem runway.
- Reduza churn com onboarding ativo e NPS.
Caixa e impostos (sem susto)
- Crie a subconta “Impostos” e mova % da receita no mesmo dia do recebimento.
- Calendário fiscal em destaque; sem misturar com operacional.
- Se necessário, antecipe parte do recebimento próximo a datas críticas.
Capital de giro e crédito (quando usar)
- Use linha rotativa só como ponte de curto prazo.
- Melhor: linha pré-aprovada com custo conhecido (não usar é gratuito, não ter é caro).
- Crédito para crescimento previsível (demanda comprovada, MC positiva, CAC/LTV ok).
Playbook de crise (travar hemorragia em 48h)
- Congelar contratações e despesas não essenciais.
- Renegociar prazos com fornecedores-chave (ligue com números).
- Forçar recebíveis: oferecer 5–10% de desconto por liquidação imediata.
- Priorizar folha e impostos críticos; o resto por ordem de impacto.
- Replanejar 13 semanas e comunicar o time.
Exemplo prático (números simples)
- Receita mensal: R$ 150.000
- MC% média: 45% → MC = R$ 67.500
- Fixos: R$ 50.000 → PE ≈ R$ 111.111 em vendas
- Saldo de caixa: R$ 80.000 | Burn atual: R$ 10.000/mês → Runway = 8 meses
- Ações: acelerar recebíveis (–7 dias), renegociar aluguel (–R$ 3.000), subir preço em 3% → runway + margem sobem.
Rituais que mantêm o caixa saudável
- Segunda 8h: reunião de 30 min (13 semanas + cobrança).
- Quinta 17h: follow-up de inadimplentes e aprovações.
- D+2 do mês: fechamento gerencial (DRE + Caixa + KPIs).
- Trimestral: revisão de preços, contratos e mix.
Checklist (printável)
- Planilha/BI de 13 semanas pronta
- Saldo mínimo de segurança definido
- Política de crédito e cobrança documentada
- MC% e PE calculados por produto/serviço
- Subconta Impostos com % automático
- Ritual semanal de caixa agendado
Conclusão
Empresa boa não vive de sorte; vive de caixa previsível. Com visão de 13 semanas, política de crédito clara, pricing que preserva margem e rituais semanais, você reduz sustos, ganha poder de negociação e transforma crescimento em dinheiro no banco.